- FONTE -
A reportagem abaixo foi feita por Denis Russo Burgierman
com design de Alceu Nunes, da revista Super Interessante.
Reportagem extraída da Revista
Super Interessante de Abril-2002, edição 175.
Câncer, doenças cardíacas, crueldade com os animais,
matança de semelhantes, desastre ecológico... Afinal, será
que você deveria virar um vegetariano?
Comer não é só uma questão de matar a fome.
A decisão sobre que comida colocar no prato tem implicações
econômicas, ambientais, éticas, culturais, fisiológicas,
filosóficas, históricas, religiosas. Embora a porcentagem
de vegetarianos venha se mantendo mais ou menos estável ao longo
da história, há um interesse crescente no assunto –
restaurantes naturais e vegetarianos ficam lotados na hora do almoço,
tornou-se comum, pelo menos nas classes médias urbanas, a preocupação
em reduzir o consumo de carne, e surgiu uma indústria bilionária
de produtos naturais que, nos Estados Unidos, já movimenta quase
8 bilhões de dólares.
Esta reportagem não ensina você a comer. Felizmente, essa
ainda é uma decisão pessoal, que depende apenas do seu julgamento
sobre o que é certo e o que é errado e – não
menos importante – do seu gosto. O que essa matéria faz é
tentar ajudar na decisão com o máximo possível de
informação insuspeita sobre cada um dos muitos aspectos
envolvidos nessa importante decisão. Se você, depois de terminá-la,
vai devorar um brócolis ou um cheeseburger, já não
é assunto nosso. Só esperamos que, terminado o texto, ao
decidir o que comer você saiba o que está fazendo e o que
isso implica
O QUE É CARNE?
A faca desce macia, cortando sem esforço o pedaço de picanha.
Dourada e crocante nas bordas, tenra e úmida no centro. Você
põe a carne na boca e mastiga devagar, sentindo o tempero, a maciez,
a temperatura. O sumo que escorre dela enche a boca e, com ele, o sabor
incomparável. Carne é bom.
Mas que tal assistir à mesma cena sob outra perspectiva? No prato
jaz um pedaço de músculo, amputado da região pélvica
de um animal bem maior que você. Com a faca, você serra os
feixes musculares. A seguir, coloca o tecido morto na boca e começa
a dilacerá-lo com os dentes. As fibras musculares, células
compridas – de até 4 centímetros – e resistentes,
são picadas em pedaços. Na sua boca, a água (que
ocupa até 75% da célula) se espalha, carregando organelas
celulares e todas as vitaminas, os minerais e a abundante gordura que
tornavam o músculo capaz de realizar suas funções,
inclusive a de se contrair. Sim, meu caro, por mais que você odeie
pensar que a comida no seu prato tenha sido um animal um dia, você
está comendo um cadáver. Carne é tecido animal, em
geral muscular. As fibras que a compõe são feixes de células
musculares, enroladas umas nas outras. Em volta delas há uma cobertura
de gordura, cuja função é lubrificar o músculo
e permitir que ele relaxe e se contraia suavemente. Ou seja, não
há carne sem gordura.
A diferença entre carne branca e vermelha é a quantidade
de ferro no tecido – o mesmo mineral que dá cor ao sangue.
As células de animais grandes, como o boi, são ricas de
uma molécula chamada mioglobina, que contém ferro. Peixes
e galinhas, por terem o corpo menor, não precisam de reservas tão
grandes de nutrientes nas células e, por isso, têm menos
mioglobina. Animais mais velhos têm carne mais vermelha – isso
explica a brancura do frango industrializado, abatido antes dos dois meses,
se comparado à galinha caipira. Essa última tem mais tempo
para acumular mioglobina nas células.
NÚMEROS, NÚMEROS, NÚMEROS
Há no mundo 1,35 bilhão de bois e vacas. Criamos 930 milhões
de porcos, 1,7 bilhão de ovelhas e cabras, 1,4 bilhão de
patos, gansos e perus, 170 milhões de búfalos. Some todos
eles e temos uma população de animais quase equivalente
à humana dedicando sua vida a nos alimentar – involuntariamente,
é claro. E isso porque ainda não incluímos na conta
a população de frangos e galinhas abastecendo a Terra de
ovos e carne branca: 14,85 bilhões. Só no Brasil há
172 milhões de cabeças de gado bovino – uma para cada
cabeça humana. Nosso rebanho bovino só é menor que
o da Índia, onde é proibido matar vacas. Na média,
um brasileiro come perto de 40 quilos de carne bovina por ano – ou
seja, uma família de cinco pessoas devora uma vaca em 12 meses.
Somos o quarto país do mundo onde mais se come carne bovina . Um
brasileiro médio come também 32 quilos de frango e 11 quilos
de porco todo ano.
TODOS OS TIPOS DE VEGETARIANOS
Vegetarianos não são todos iguais. Conheça as diferenças.
Ovolactovegetarianos
Não comem carne de nenhum tipo, mas consomem ovos, leite e derivados. Em geral, quando alguém diz que é “vegetariano”, é essa dieta que ele segue.
Não comem carne de nenhum tipo, mas consomem ovos, leite e derivados. Em geral, quando alguém diz que é “vegetariano”, é essa dieta que ele segue.
Lactovegetarianos
Provavelmente o mais numeroso dos grupos, já que essa dieta é predominante no sul da Índia – por razões religiosas. Nada de carne, mas leite e derivados estão liberados. O ovo é terminantemente proibido, por conter a “vibração da vida”.
Provavelmente o mais numeroso dos grupos, já que essa dieta é predominante no sul da Índia – por razões religiosas. Nada de carne, mas leite e derivados estão liberados. O ovo é terminantemente proibido, por conter a “vibração da vida”.
Vegans
Não consomem nada de origem animal: carne, ovos, leite, mel. Roupas de couro, lã e seda também estão proibidas.
Não consomem nada de origem animal: carne, ovos, leite, mel. Roupas de couro, lã e seda também estão proibidas.
Semivegetarianos
Aquelas pessoas que afirmam ser vegetarianas, mas abrem exceções para peixes ou aves. São vistos com desdém pelos outros grupos. A principal razão para essa dieta, que recusa só a carne vermelha, é o cuidado com a saúde.
Aquelas pessoas que afirmam ser vegetarianas, mas abrem exceções para peixes ou aves. São vistos com desdém pelos outros grupos. A principal razão para essa dieta, que recusa só a carne vermelha, é o cuidado com a saúde.
Macrobióticos
Dieta tradicional japonesa, que pode ser vegan, ovolactovegetariana ou incluir peixe. Há várias restrições – a dieta acompanha as estações do ano, o cardápio tem que incluir uma árvore toda, da semente ao fruto. Como foi elaborada no Japão, a macrobiótica não contempla a realidade brasileira (as estações do ano, por exemplo, são diferentes aqui). Isso pode levar a deficiências alimentares.
Dieta tradicional japonesa, que pode ser vegan, ovolactovegetariana ou incluir peixe. Há várias restrições – a dieta acompanha as estações do ano, o cardápio tem que incluir uma árvore toda, da semente ao fruto. Como foi elaborada no Japão, a macrobiótica não contempla a realidade brasileira (as estações do ano, por exemplo, são diferentes aqui). Isso pode levar a deficiências alimentares.
Crudivorismo
Só comem vegetais crus. É preciso cuidado com essa dieta, porque ela exclui os grãos, que são as melhores fontes de proteína e ferro dos vegetarianos. Há risco de desnutrição.
Só comem vegetais crus. É preciso cuidado com essa dieta, porque ela exclui os grãos, que são as melhores fontes de proteína e ferro dos vegetarianos. Há risco de desnutrição.
Frugivorismo
Os frugivoristas não só rejeitam carne, como evitam machucar ou matar vegetais. Por isso, comem apenas aquilo que as plantas “querem” que seja comido: frutas e castanhas. Consideram o consumo de folhas, caules e raízes uma violência. A dieta não é das mais saudáveis, já que é pobre em proteínas e em minerais.
Os frugivoristas não só rejeitam carne, como evitam machucar ou matar vegetais. Por isso, comem apenas aquilo que as plantas “querem” que seja comido: frutas e castanhas. Consideram o consumo de folhas, caules e raízes uma violência. A dieta não é das mais saudáveis, já que é pobre em proteínas e em minerais.
CARNE FAZ MAL?
Quem come mais carne – especialmente carne vermelha – tem índices
maiores de câncer e de enfarte, as duas principais causas de morte
do planeta. É o que dizem as estatísticas. Carne faz mal,
então? Não é tão simples. Nos últimos
30 anos, as autoridades dos Estados Unidos vêm aconselhando os americanos
a diminuir a ingestão de carne vermelha e manteiga por causa de
suspeitas de que a gordura saturada presente em grande quantidade nesses
alimentos aumenta a taxa de colesterol e, com isso, causa ataques cardíacos.
O conselho virou norma no mundo todo – a Organização
Mundial da Saúde e vários governos adotaram a política
de reduzir a gordura saturada. Tudo muito bom, só que tem algumas
peças que, mesmo após três décadas de pesquisas,
continuam não se encaixando no quebra-cabeças. Uma delas
é a Europa mediterrânea. Lá, desde que terminaram
os rigores da Segunda Guerra, o consumo de carne vermelha tem aumentado.
Pois bem: a taxa de doenças cardíacas diminuiu no mesmo
período. E a França? O país da pâtisserie,
fã ardoroso das carnes vermelhas de todo tipo, onde qualquer almoço
começa refogando o que quer que seja em manteiga derretida, tem
uma das mais baixas taxas de mortes por ataque cardíaco do mundo.
No ano passado, Gary Taubes, correspondente da revista americana Science
e um dos principais escritores de ciência do mundo, escreveu um
longo artigo no qual classificava o medo da gordura saturada como “dogma”.
Taubes afirma que, mesmo com tanta pesquisa, não há prova
de que gordura saturada e enfartes estão ligados. E vai além:
diz que a propaganda do governo só serviu para fazer com que os
americanos comessem mais – ao evitar a gordura, eles acabavam ingerindo
mais carboidratos, mais açúcar, para manter a quantidade
diária de calorias (o corpo tende a reclamar quando as calorias
são insuficientes para saciá-lo – isso se chama fome).
Resultado: o índice de obesidade passou de 14% para 22% no país.
E obesidade, sabidamente, é um sério fator de risco para
doenças cardíacas. A maior parte do mundo médico
ainda acredita na malignidade da carne vermelha e da manteiga. (“Não
tenho dúvidas da relação entre gordura saturada e
doenças cardiovasculares”, afirma o nutricionista argentino
Cecílio Morón, oficial da agência da ONU que cuida
de alimentação, a FAO. Denise Coutinho, que coordena a política
de nutrição do governo brasileiro, repetiu quase as mesmas
palavras.) Mas o artigo de Taubes serviu para mostrar que nutrição
não é baseada numa relação simples de causa
e conseqüência, tipo “mais carne, mais ataques cardíacos”.
Mas, afinal, o que sobra da discussão? Dietas de países
gelados como a Escócia e a Finlândia, onde o único
vegetal consumido em quantidade é o tabaco, estão equivocadas.
Os altos índices de ataques cardíacos por lá são
prova incontestável. Mas os franceses, e os mediterrâneos
em geral, devem estar fazendo alguma coisa certa. Sua dieta é variada
e rica em vegetais frescos, azeite de oliva (tido como redutor de colesterol),
vinho e carne de todos os tipos. Ao contrário dos americanos, esses
povos comem com calma, em ambientes descontraídos. O que os está
salvando dos ataques cardíacos? Os legumes, o azeite, o vinho,
a conversa mole depois do almoço, a brisa marinha? Ninguém
sabe ao certo. Provavelmente é uma conjunção de todos
esses fatores.
O raciocínio vale em parte para o câncer também.
Os comedores de carne morrem mais de câncer de intestino, boca,
faringe, estômago, seio e próstata. Ainda assim, o elo entre
carne e câncer é meio frouxo. Tudo indica que, se é
que a carne aumenta mesmo a incidência de câncer, sua influência
é bem pequena – um fator entre muitos. Agora, de uma coisa
ninguém tem dúvidas: vegetais fazem bem. Uma dieta rica
em frutas, legumes e verduras claramente reduz as chances de ter câncer
no esôfago, na boca, no estômago, no intestino, no reto, no
pulmão, na próstata e na laringe, além de afastar
os ataques cardíacos. Frutas e legumes amarelos têm caroteno,
que previne câncer no estômago; a soja possui isoflavona,
que diminui a incidência de câncer de mama e osteoporose;
o alho tem alicina, que fortalece o sistema imunológico; e por
aí vai – essa lista poderia ocupar o resto da revista. Em
resumo: não está bem claro se a carne faz mal. Muito bem,
pelo jeito, não faz. Mas, para ser saudável, o importante
é ter uma dieta rica e variada de vegetais. Seja ela vegetariana
ou não.
DÁ PRA VIVER SEM CARNE?
Dá! O vegetarianismo exige cuidados e conhecimentos de nutrição,
mas com certeza pode-se ter uma dieta saudável sem carne. Aliás,
o fato de exigir cuidados a faz mais saudável. Um vegetariano tende
a prestar mais atenção no que come e nos efeitos disso sobre
seu corpo. E isso, em si, já é um hábito salutar.
Muitos nutricionistas afirmam que as crianças não devem,
de maneira nenhuma, ficar sem proteína animal, sob risco de terem
o desenvolvimento cerebral prejudicado. Essa regra deve ser seguida a
não ser que os pais saibam muito bem o que estão fazendo,
conheçam as propriedades de cada alimento e – não menos
importante – que a criança queira.
Os ovolactovegetarianos não têm problemas com proteínas
porque os derivados de animais são tão protéicos
quanto a carne. O perigo é que leite e ovos são pobres em
minerais, especialmente ferro, que é fundamental para a saúde
– ele é usado para construir a hemoglobina, uma molécula
cuja função é carregar o oxigênio do pulmão
para as células. Sem ferro, portanto, as células podem morrer.
Isso é a anemia.
Ou seja, ovolactovegetarianos não podem basear sua dieta no leite,
nos ovos e nos queijos, sob risco de ficarem sem nutrientes valiosos.
É preciso comer muitos e variados vegetais, em especial soja, feijão,
brócolis, couve, espinafre – todos ricos em ferro. A quantidade
é fundamental, porque o ferro dos vegetais é menos absorvido
pelo corpo que o de origem animal. Uma boa dica é acompanhar as
refeições com suco de laranja, já que a vitamina
C ajuda na absorção do ferro. Outra fonte de ferro é
a casca de grãos como o arroz e o trigo. Por isso, eles devem ser
sempre integrais. Denise Coutinho, responsável pela política
nutricional do governo federal, adiantou à Super que está
em estudo uma medida para tornar a fortificação com ferro
obrigatória nas farinhas de trigo e de milho. A medida, que visa
combater a desnutrição, vai acabar ajudando a vida dos vegetarianos.
Já para os vegans, a palavrinha mágica é “soja”.
Se você não gosta desse grão ou é alérgico
a ele, virar vegan vai ser bem mais penoso. A questão é
a seguinte: suprir suas necessidades protéicas com carne é
fácil. “Afinal, você é feito de carne”,
diz Pedro de Felício, especialista em produtos de origem animal
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Um bife tem a mesma composição
que os músculos do seu corpo. As proteínas das quais ele
é feito são, também, iguais às suas, feitas
com os mesmos aminoácidos. Portanto, contêm tudo o que você
precisa. Proteínas vegetais são mais simples. Elas não
contêm todos os componentes necessários. A soja, entre os
vegetais, é o que tem as proteínas mais completas. Há
outras fontes de proteína, como o feijão, mas, se você
não come soja, vai precisar de grandes quantidades e de muita variedade
de vegetais para juntar todos os aminoácidos de que precisa. “Desde
que sigam essa regra, os vegans tendem a ter uma dieta até mais
equilibrada que os ovolactovegetarianos, já que não ocupam
lugar no estômago com ovos e leite, que são pobres em vários
nutrientes”, diz o nutricionista vegan George Guimarães.
Uma questão para os vegans é a vitamina B12, que o corpo
não produz e não existe em vegetais. A B12 é fabricada
por bactérias e pode ser encontrada nos animais (que comem bactérias
ao ciscar ou pastar). Mas suprir as necessidades de B12 é fácil:
qualquer biscoito ou cereal com a palavra “fortificado” no rótulo
contém a vitamina. Ela também é vendida em cápsulas.
SOMOS VEGETARIANOS POR NATUREZA?
Não. “O homem tem dentes pequenos e sistema digestivo curto,
características de onívoros”, afirma o antropólogo
físico Walter Neves, da Universidade de São Paulo, maior
especialista brasileiro em homens pré-históricos. Ou seja,
nosso organismo está preparado para comer de tudo, inclusive carne.
Somos como o chimpanzé, que, além de plantas, cata insetos,
lagartos e roedores. E diferentes do gorila, que só come plantas
e, para isso, tem dentes molares imensos e uma barriga enorme (se você
também tem uma, por favor não tome isso como uma comparação).
Os dentes grandes servem para criar mais área de mastigação
e, assim, triturar melhor as folhas e tirar delas os escassos nutrientes.
A barriga abriga o intestino e o estômago, que são bem maiores
para dar mais tempo ao organismo de absorver o que interessa.
Walter afirma que, num passado longínquo, nos alimentávamos
como chimpanzés. Mas há 2,5 milhões de anos nossa
dieta mudou. Começamos a fabricar instrumentos de pedra e as novas
armas permitiram que incluíssemos no cardápio a carne de
grandes mamíferos. Assim, nossa ingestão de proteína
animal aumentou demais. “Sem isso, não teríamos desenvolvido
um cérebro grande”, diz Walter. O aumento súbito de
proteína na dieta permitiu que nosso corpo investisse mais recursos
no sistema nervoso. Hoje, de 30% a 40% de tudo o que comemos vira combustível
para fazer o cérebro funcionar. Sem o aumento na ingestão
de carne, isso jamais seria possível.
Mas, na mesma época, surgiu um gênero de humanídeos
estritamente vegetarianos. Conhecidos como Paranthropus, eles tinham grandes
molares, eram barrigudos e não comiam animais de nenhuma espécie,
nem insetos. Esses humanos vegetarianos conviviam com os humanos caçadores
– há um lago no Quênia onde foram encontradas ossadas
das duas espécies, com aproximadamente a mesma idade, a poucos
quilômetros de distância.
O Paranthropus se extinguiu há 1,2 milhão de anos, provavelmente
porque sua dieta mais restritiva o atrapalhou na competição
com nossos ancestrais generalistas. Nossos primos vegetarianos deviam
ser muito menos espertos que seus contemporâneos Homo, como atesta
o tamanho de seu cérebro. “Eles investiram os recursos do
organismo em dentes, os Homo investiram no cérebro”, diz Walter.
Quer dizer que precisamos comer carne para raciocinar? Não. Há
2,5 milhões de anos era assim porque não sabíamos
plantar e nossa dieta quase não incluía plantas protéicas.
Os únicos vegetais que comíamos eram frutas, folhas e raízes.
Hoje, é possível ter uma dieta rica em proteínas
sem carne.
VACA, A ONIPRESENTE
Há quem diga que o problema de comer carne é moral: não
teríamos o direito de matar para comer. Mas, se você acha
que basta parar de comer carne para acabar com a matança, está
enganado. Há muito mais produtos no mercado que incluem animais
mortos do que imagina a nossa vã filosofia.
Para começar, boa parte da indústria de vestuário
depende de animais. O couro, você sabe, é a pele de bichos
abatidos. Para separar o fio de seda, é preciso ferver o bicho-da-seda.
Além disto, filmes fotográficos e de cinema são recobertos
por uma gelatina, retirada da canela da vaca. Ou seja, um vegan radical
só tira fotos digitais. Dos pés bovinos saem também
substâncias usadas na espuma dos extintores de incêndio. O
sangue bovino rende um fixador para tinturas e a gordura acaba em pneus,
plásticos, detergentes, velas e no PVC. Cremes de barbear, xampus,
cosméticos e dinamite derivam da glicerina, substância que
contém gordura bovina. A quantidade de medicamentos feitos com
pedaços de gado, do pâncreas ao cordão umbilical,
passando pelos testículos, é imensa.
Há um pouco das vacas também em vários produtos
da indústria alimentícia – e não estamos falando
só de bife à parmegiana. A gelatina deve a consistência
ao colágeno arrancado da pele e dos ossos. Aliás, quase
toda comida elástica contém colágeno – da maria-mole
ao chiclete. Os queijos curados são feitos com uma enzima do estômago
do bezerro. Além dos bovinos, vários outros animais são
usados pela indústria de comida. Vegans devem ficar de olho nos
rótulos e evitar dois corantes: coxonilha e carmin. O primeiro,
usado para tingir de azul, é feito de besouros moídos. O
segundo, que pinta de vermelho, é feito de lesmas amassadas.
O PLANETA PRECISA DE CARNE?
Na verdade, se todos fossem vegetarianos, é provável que
não houvesse tanta fome no mundo. É que os rebanhos consomem
boa parte dos recursos da Terra. Uma vaca, num único gole, bebe
até 2 litros de água. Num dia, consome até 100 litros.
Para produzir 1 quilo de carne, gastam-se 43 000 litros de água.
Um quilo de tomates custa ao planeta menos de 200 litros de água.
Sem falar que damos grande parte dos vegetais que produzimos aos animais.
Um terço dos grãos do mundo viram comida de vaca. No Brasil,
o gado quase não come grãos – graças ao clima
é criado solto e se alimenta de grama. Mas boa parte da nossa produção
de soja, uma das maiores do mundo, é exportada para ser dada ao
gado. Outra questão é que a pecuária bovina estimula
a monocultura de grãos. Num mundo vegetariano haveria lavouras
mais diversificadas e teríamos muito mais recursos para combater
a fome.
E não se trata só de comida. A pecuária esgota o
planeta de outras formas. “Para começar, ocupa um quarto da
área terrestre e não pára de se expandir”, diz
o ativista vegetariano Jeremy Rifkin. A pressão para a derrubada
das florestas, inclusive a amazônica, vem em grande parte da necessidade
de pasto. Entre os danos ambientais causados pelo gado, está também
o aquecimento global. Os gases da flatulência de bois e ovelhas
– não, isso não é uma piada – estão
entre os principais causadores do efeito estufa.
COMO VIVEM – E MORREM OS ANIMAIS?
BOI
No Brasil, os bois são criados soltos. Provavelmente, essa forma de criação é menos terrível que a de países frios do Cone Sul e da Europa, onde os invernos matam o pasto e fazem com que os animais fiquem fechados em áreas apertadas, comendo só ração. Isso não quer dizer que seja o melhor dos mundos. Os animais muitas vezes passam fome, vivem cheios de parasitas e apanham copiosamente. “O manejo no Brasil é muito bruto”, diz o etólogo Mateus Paranhos da Costa, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, especialista no assunto.
No Brasil, os bois são criados soltos. Provavelmente, essa forma de criação é menos terrível que a de países frios do Cone Sul e da Europa, onde os invernos matam o pasto e fazem com que os animais fiquem fechados em áreas apertadas, comendo só ração. Isso não quer dizer que seja o melhor dos mundos. Os animais muitas vezes passam fome, vivem cheios de parasitas e apanham copiosamente. “O manejo no Brasil é muito bruto”, diz o etólogo Mateus Paranhos da Costa, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, especialista no assunto.
Não existe aqui no Brasil a produção de vitela –
carne muito branca e macia de bezerros mantidos em jaulas superapertadas
para evitar que se movimentem. Para acentuar a brancura da carne, os criadores
não permitem que o bezerro coma grama ou grãos, só
leite – a dieta tem que ser pobre em ferro e em outros nutrientes,
forçando uma anemia no animal. Com isso, torna-se necessário
o consumo de antibióticos, para diminuir o risco de infecções
do animal desnutrido. “A vitela deveria ser proibida no mundo inteiro”,
afirma o agrônomo e etólogo Luiz Carlos Pinheiro Machado
Filho, especialista em técnicas de manejo da Universidade Federal
de Santa Catarina.
Para matar um boi, primeiro se dá um disparo na testa com uma
pistola de ar comprimido. O tiro deixa o animal desacordado por alguns
minutos. Ele então é erguido por uma argola na pata traseira
e outro funcionário corta sua garganta. “O animal tem que
ser sangrado vivo, para que o sangue seja bombeado para fora do corpo,
evitando a proliferação de microorganismos”, diz Ari
Ajzenstein, fiscal do Serviço de Inspeção Federal
(SIF), que zela para que as regras de higiene e de bons tratos no abate
sejam cumpridas.
Em 1997, a ativista de direitos dos animais americana Gail Eisnitz escreveu
o bombástico livro Slaughterhouse (“Matadouro”, inédito
no Brasil), no qual acusava os matadouros de sangrar muitos animais ainda
conscientes. “Não vou dizer que isso não acontece no
Brasil, mas não é freqüente”, afirma Mateus Paranhos.
O abate a marretadas está proibido no país, o que não
quer dizer que não aconteça – já que quase 50%
dos abates são clandestinos e, portanto, sem fiscalização.
O problema da marretada é que não é fácil
acertar o boi com o primeiro golpe. Muitas vezes, são necessários
dezenas para desacordá-lo.
GALINHAS
Essas quase sempre levam uma vida miserável. Vivem espremidas numa gaiola do tamanho delas. As luzes ficam acesas até 18 horas por dia – assim elas não dormem e comem mais (isso acontece principalmente com as que produzem ovos). Seus bicos são cortados para que não matem umas às outras e para evitar que elas escolham que parte da ração querem comer – caso contrário, ciscariam apenas os grãos de seu agrado e deixariam de lado alimentos que servem para que engordem rápido.
Essas quase sempre levam uma vida miserável. Vivem espremidas numa gaiola do tamanho delas. As luzes ficam acesas até 18 horas por dia – assim elas não dormem e comem mais (isso acontece principalmente com as que produzem ovos). Seus bicos são cortados para que não matem umas às outras e para evitar que elas escolham que parte da ração querem comer – caso contrário, ciscariam apenas os grãos de seu agrado e deixariam de lado alimentos que servem para que engordem rápido.
A morte é rápida. As galinhas ficam presas numa esteira
rolante que passa sob um eletrodo. O choque desacorda a ave e, em seguida,
uma lâmina corta seu pescoço. O esquema é industrial.
Hoje, nos Estados Unidos, são abatidas, em um dia, tantas aves
quanto a indústria levava um ano para matar em 1930. Nas granjas
de ovos, pintinhos machos são sacrificados numa espécie
de liquidificador gigante. Parece horrível, mas é a mais
indolor das mortes descritas aqui.
PORCOS
Outros azarados. Não têm espaço nem para deitar confortavelmente. “São confinados do nascimento ao abate”, diz Pinheiro Filho. As gestantes são forçadas a parir atadas a uma fivela, apertadas na baia. O abate é parecido com o de bovinos, com a diferença que o atordoamento é feito com um choque elétrico na cabeça e que o animal é jogado num tanque de água fervendo após o sangramento, para facilitar a retirada da pele. Gail Eisnitz afirma, em seu livro, que muitos porcos caem na água fervendo ainda vivos, mas isso provavelmente é incomum.
Outros azarados. Não têm espaço nem para deitar confortavelmente. “São confinados do nascimento ao abate”, diz Pinheiro Filho. As gestantes são forçadas a parir atadas a uma fivela, apertadas na baia. O abate é parecido com o de bovinos, com a diferença que o atordoamento é feito com um choque elétrico na cabeça e que o animal é jogado num tanque de água fervendo após o sangramento, para facilitar a retirada da pele. Gail Eisnitz afirma, em seu livro, que muitos porcos caem na água fervendo ainda vivos, mas isso provavelmente é incomum.
PATOS E GANSOS
Os mais infelizes dos nossos alimentos provavelmente são os gansos e patos da França. O foie gras, um patê tradicional e sofisticado, é feito com o fígado inflamado das aves. Os produtores colocam um funil na boca delas e as entopem de comida por meses, fazendo com que o fígado trabalhe dobrado. Isso provoca uma inflamação e faz com que o órgão fique imenso, cheio de gordura. Ou seja, o patê, na prática, é uma doença. Há movimentos pedindo o banimento do produto. Não se produz foie gras no Brasil.
Os mais infelizes dos nossos alimentos provavelmente são os gansos e patos da França. O foie gras, um patê tradicional e sofisticado, é feito com o fígado inflamado das aves. Os produtores colocam um funil na boca delas e as entopem de comida por meses, fazendo com que o fígado trabalhe dobrado. Isso provoca uma inflamação e faz com que o órgão fique imenso, cheio de gordura. Ou seja, o patê, na prática, é uma doença. Há movimentos pedindo o banimento do produto. Não se produz foie gras no Brasil.
O QUE FAZER A RESPEITO?
Há uma verdade inescapável: ao comermos carne, somos indiretamente
responsáveis pela morte de seres que têm pai, mãe,
sofrem, sentem medo. “Os vertebrados sentem dor”, diz Rita Paixão,
fisiologista e bioeticista da Universidade Federal Fluminense. Isso é
um fato e, se você pretende continuar comendo carne, é bom
se acostumar com ele. Mas podemos ao menos minimizar o sofrimento, escolhendo
comidas que impliquem em menos crueldade. O mercado oferece alternativas.
Uma delas são os ovos caipiras, produzidos por galinhas criadas
soltas, em companhia de galos, sob o sol – um desinfetante natural
–, comendo o que querem com seus bicos inteiros. A maior granja brasileira
de ovos caipiras é a Yamaguishi, que distribui “ovos da galinha
feliz” pela região de Campinas e em São Paulo. “Os
ovos que nós produzimos... quer dizer, que nossas galinhas produzem”,
diz Marcelo Minutti, gerente da granja, “são mais saborosos
e não contêm substâncias químicas.”
Frangos caipiras, criados em condições semelhantes, também
já são encontrados nos supermercados. Sua carne é
mais dura, mas é mais saborosa e a chance de conter substâncias
perigosas, como hormônios e antibióticos, é mínima.
A rede Carrefour, graças a uma política da sede francesa,
é uma das que oferece o produto. Ele faz parte da linha “garantia
de origem”, só de produtos feitos com essa preocupação.
Os bois certificados com “garantia de origem” são bem
alimentados e criados por pessoas treinadas por especialistas em comportamento
animal para entender como ele pensa e manejá-lo sem violência.
“Agora vamos produzir porcos com origem garantida, criados soltos”,
diz o veterinário Adolfo Petry, responsável, no Carrefour,
pelos produtos animais garantidos com o selo. Produtos assim custam entre
50% e 100% a mais que os convencionais. Apesar do interesse crescente
do consumidor em diminuir a crueldade (numa pesquisa feita pela Super
na internet, 85% das 2408 pessoas disseram que deixariam de comer alimentos
se soubessem que eles causam sofrimento para animais), a procura por esses
produtos ainda é muito pequena.
SER VEGETARIANO
Atualmente cientistas e médicos renomados defendem o vegetarianismo
citando inúmeras doenças causadas pelo consumo de animais,
como o câncer, problemas de coração, sistema nervoso,
impotência, entre outros.Todo animal, assim que morre, começa
o seu processo de decomposição. Milhões de bactérias
se desenvolvem para consumir o animal. Essas bactérias liberam
toxinas que não saem com o cozimento da carne.
A reprodução excessiva de animais de corte desequilibra
a natureza e torna os animais suscetíveis a várias doenças.
Fazendeiros destroem florestas para plantar pastos, animais adoecem de
forma rápida, mesmo com a quantidade enorme de vacinas e remédios
que aplicam. Um exemplo atual é a grande crise na Europa, onde
estão incendiando milhares de animais.
"A Alimentação Altera Sua Consciência"
"Na comida pura, há uma natureza pura;
Numa natureza pura existe a fixação firma da memória;
Numa memória firme, existe a liberação de todos os vínculos!"
"Na comida pura, há uma natureza pura;
Numa natureza pura existe a fixação firma da memória;
Numa memória firme, existe a liberação de todos os vínculos!"
Chandogya Upanishad
Quando nos estabelecemos no autoconhecimento, naturalmente temos que
estar abertos para mudanças no estilo de vida. Uma forma simples
e eficiente de autoconhecer-se é perceber o que se come. Se você
é aquilo que come e ultimamente não têm gostado do
que vê e do que sente, creio que a mudança de hábitos
alimentares poderá alterar completamente a sua vida.
"Nós julgamos o coração e
o espírito do Homem pelo seu tratamento com os animais!"
Immanuel Kant
Os grandes mestres que apareceram neste planeta foram vegetarianos, como
Krishna, Buddha e Jesus. Não derramar sangue para se alimentar
é ahimsa (não-violência). Nenhum animal precisa sofrer
para servir ao homem.
Nos Estados Unidos, 660.000 animais são mortos por hora. Uma quantidade
impressionante de carne é consumida pelos americanos, canadenses
e australianos, chegando a mais de 90 kg per capita ao ano.
Um americano com 72 anos de idade, já consumiu em média,
durante a sua existência o equivalente a 11 bois, 3 carneiros, 23
porcos, 45 perus, 1100 frangos e 390 kg de peixes!
Vegetarianismo ( em sânscrito Shakahára ) é o sistema
alimentar que exclui de sua dieta a carne e peixe. O vegetarianismo é
um princípio de saúde, de ética ambiental e de espiritualidade.
A pessoa seguidora do vegetarianismo é chamada de Shakarári
. Uma pessoa não-vegetariana é denominada de Mamsahári
.
O vegetarianismo foi, durante milênios, um princípio de
saúde, de ética ambiental e de espiritualidade por toda
a ÍNDIA. Com a invasão dos muçulmanos e a triste
colonização católica na Ìndia, estes princípios
sofreram um parcial desgaste e adulteração.
Porém, ainda hoje, a preferência dos indianos Hindus é
o sistema ovo-lacto-vegetariano podendo encontrar em qualquer restaurante
um vasto cardápio vegetariano.
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